Quando recebi o convite para escrever essa coluna fiquei um pouco assustada. Mil assuntos passaram pela minha cabeça. Mas parei, respirei e segurei a ansiedade. Antes de mais nada, acho que preciso me apresentar. Sou uma desconhecida.
Como ex-professora de História, entendo que preciso informar de onde vim. Todos somos fruto de nossas histórias de vida. Nossas visões de mundo se forjam a partir de nossas vivências. Desde cedo aprendi a observar as diferenças sociais que existem entre nós. Diariamente, em minha casa, apareciam os “engraxates” na porta pedindo comida. Naquela Viamão de quase 50 anos atrás, ainda era comum as pessoas chegarem até nós sem as grades que hoje nos separam.
Fui entendendo que a fome era o pior dos males. Queria muito entender as razões que levavam comida farta à nossa mesa e restos, ou nada, a outros tantos. Subi a “Lomba Tarumã” centenas de vezes. Naquela época já era um gueto formado pela pessoas mais pobres de Viamão. Lá, convivi com gente trabalhadora que, percebi, se diferenciavam de mim apenas por viverem em casas mais humildes. Faltava-lhes as oportunidades que eram fáceis para mim.
Essas questões sociais, e tantas outras, eram conversadas em minha casa. Meu pai, um ser de luz, trazia consigo essas mesmas angústias. A pressa Dele em aplacar a fome dos muitos pedintes que já circulavam em Viamão o faziam praticar atos da caridade com frequência. Mas ele sempre me dizia: hoje conseguimos, mas amanhã tudo restará igual.
A caridade não resolve o problema, apenas o adia. Precisamos atacar as causas! E a única ferramenta que temos para isso chama-se Política. Nas eleições de 1982, as primeiras ainda durante a Ditadura Militar, ele me colocou uma bolsa cheia de panfletos e me mandou para a rua. Eu tinha 11 anos, e saí orgulhosa na minha estreia política. De lá prá cá não parei mais. Cursei História para orgulho Dele e decepção de muitos, que achavam que não era um curso de “primeira linha”. Há muitos anos abandonei o magistério e segui caminhos profissionais bem diferentes de minha formação. Mas isso são “coisas da vida”, que acontecem a todos. Quando me pergunto: tu te arrependeu de ter cursado História? Não, nunquinha.
Eu não seria quem sou hoje se tivesse sido diferente. Então, caro leitor, quero te convidar a fazer dessa coluna um espaço de trocas. Quero dividir o que sei e o que vivi com vocês. E, como sempre temos um norte que aponta nossos caminhos, deixo aqui o meu, através de uma das mais lindas poesias:
You may say I’m a dreamer
But I’m not Only one
I hope some day you’ll join us
And the world will be as one
Grande Abraco!
Nascida e criada em Viamão. Moro há 12 anos em Florianópolis. Filha de um cara que sonhou em acabar com a fome no mundo e que cresceu ouvindo sobre política e filosofia com a naturalidade de quem ouve sobre futebol.
Colorada fanática e canhota. Aliás, é com a mão Esquerda que vê o mundo. Formada em História pela UFRGS e ex-futura arqueóloga. Apaixonada sobretudo. Casada com seu eterno namorado Maurício, que conheceu aos 16 anos.
Mãe de uma estrela chamada Maria Luiza e do João Antônio.